Casa de Arcangelo

Ele chega

Ele bate na porta

Ele suspira e abre
- Devias estar em casa, ainda chega a empregada ou a enfermeira e os teus filhos fazem dela pinhata

- Anda

- Não

- Anda lá

- Para quê?

- Fazes parte da família agora

- Vamos ser adultos. Tu não queres, não vale a pena forçar a barra

- Sou pai... dá-me só um tempo...

- Um tempo... Arthur, não te estou a obrigar a nada... mas esse tempo pode ser longo demais... lamento....

- Só te peço um tempo...

Ele olha-o

Ele olha-o

- Tudo bem...

Ele estica-lhe a mão

Ele dá-lhe

Ele sorri e sai com ele

Ele entra
- Diz-me que sou um idiota e que estou errado

Ele olha-o apenas de calças
- Não, és um jovem inteligente que consegue ver as coisas

- Eu não posso desistir assim, o que isso faz de mim? Fui eu que praticamente lhe implorei...

- Faz de ti exatamente o que eu disse...

- Worrick!

- O que é que queres que te diga? És um jovem a jogar o papel de um adulto. Tu devias de estar a esta hora a divertir-te com os teus amigos que trocaste por ele, coisa que ele não tinha o direito de te fazer escolher, tu não o mandaste escolher entre a família dele e a ti

- É diferente...

- É igual, uma relação faz-se com base na confiança e ele trabalha no bar e tudo, tinha de confiar em ti e não isolar-te. Vocês nunca vão funcionar, ele trabalha de noite e tu dormes, tu trabalhas de dia e ele dorme. Nos momentos que ambos, cansados tinham de fazer um esforço ele não o vai fazer porque vai usar esse tempo para estar com os filhos, não vai haver momentos a sós, a dois, sexo!

- Não faças de mim um desesperado! Ele é pai!

- Tu não entendes, falta amor! Atração! Desejo! Disponibilidade! Ele não te quer para isso! Não está disposto! Para uma relação começar tem de haver tempo para estarem os dois, para alimentá-la, esse tempo não existe. Estás numa família que te odeia. Se tu fores embora ele vai viver bem, porque aqueles filhos não são teus, são da mulher que ele passou a vida a amar até que a morte os separasse e os filhos não gostam de ti. Tu és apenas alguém que lhe ajuda e faz companhia, alguém rico, que dá jeito... Nunca lhe poderás dar um filho para o prender a ti... Ele não te quer para isso, para fazer uma família... e tu tinhas um homem que te amava muito, Akira... Só quero o teu bem...

Ele vira a cara e começa a chorar

Ele abraça-o
- Ainda vais a tempo... vai ficar tudo bem...

Ele bate na porta

- Fica aqui, deve ser trabalho - ele vai abrir
- Já trabalhei as horas sufi... - ele repara
- Sim?

- Posso falar com o Akira?

- Porquê? Achas que ele não veio mesmo ter comigo?